quarta-feira, 7 de agosto de 2019

MISSÃO EVANGELIZADORA EM MEIO À CULTURA URBANA


O mundo urbano é um desafio complexo e dinâmico,
que as paróquias ainda precisam conhecer melhor. 


O desafio atual da Igreja é reconhecer-se em um mundo cada vez mais urbano e multifacetado. É neste ambiente, em que o sujeito encontra-se em meio aos apelos da mídia, conjugado em sua identidade a partir de um desenraizamento cultural e em meio à uma família em constante mudança, é que o fiel busca Deus. A missão da Igreja é apresentar o Senhor Jesus Cristo, tal como a Igreja Católica sempre o apresentou, em meio às mais diferentes realidades e opiniões.

A urbanização das cidades, despreparadas para receber pessoas em tão grande número e em tão pouco tempo, tira o aconchego de uma vizinhança que se conhece. Dentro desta realidade urbana e social, familiar e comunitária, a Igreja precisa encontrar caminhos. 

O caminho da evangelização nas cidades precisa partir das pequenas comunidades eclesiais missionárias. Sem o encontro, o reunir-se, o sair e o entrar, o partir e o chegar, o abraço e o olhar, criaremos uma identidade cristã insuficiente ao homem e à mulher urbanos. É preciso formar bem (no sentido de dar forma) tanto o laicato quanto os que exercem liderança ministerial nas comunidades, para que possa contribuir substancialmente com a ação evangelizadora para serem todos, cristãos de verdade no mundo urbano.

A evangelização precisa redescobrir-se a partir da clareza da fé católica. Religião não é lugar em que cada um acha que possui uma verdade, a "sua verdade". Religião é lugar de experimentar a certeza da fé que vem de Deus. É preciso crer na fé da Igreja. 

A missa não pode tornar-se o que nunca foi: um show do padre ou da comunidade. A missa não pode ser uma "auto-celebração". Os fiéis querem ir à missa para encontrar-se com Deus na celebração da liturgia, tal como ela é preservada e celebrada pela Igreja. Não vão para encontrar-se com o seu ídolo pop. Quanto mais invencionice e teatro, menos liturgia. E quanto menos liturgia da Igreja, acontece ali a soberania do homem e não de Deus. A preocupação da Igreja é com a Palavra, os Sacramentos e a Caridade. Temos estes tesouros guardados em vasos de barro. É preciso que os fiéis conheçam a salvação em Jesus Cristo, acolham esta palavra na Igreja e se salvem. E este conhecimento parte da experiência de fé e do testemunho daqueles que a dirigem e orientam: padres, freiras, comunidades de fé, precisam ser testemunhas apaixonadas por Jesus Cristo, na Igreja que encanta e atrai, converte e ensina, cura e salva. 

No tempo atual, cheio de símbolos e imagens que comunicam, a Igreja virou as costas àquele simbólico mais compreensivelmente acolhido. O simbólico e o belo deixaram de existir em muitas comunidades, tornando-as insípidas: ambiente sagrado, cruz com Cristo e Cristo com cruz, santos, música, silêncio, local de oração e encontro pessoal e comunitário. A dessacralização é um processo construído para chocar olhos e coração: não mais se identificam quem é o padre, a freira no meio do povo. É tudo um só corpo, sem identidade nem elementos que o identifiquem em todos os lugares. Vocação é um serviço e entrega de toda a sua vida e é direito do fiel católico encontrar-se com um padre ou freira no banco, na rua, no mercado ou na praça. Falar que já fazem anos que não vai mais à missa e poder ser convidado, ali, na fila do cinema. E perceber que somos presença de Deus no mundo, mas não somos do mundo. 

A celebração da fé católica deve, portanto, promover o alegre encontro com a Palavra e a salvação em Jesus Cristo, tal como a Igreja sempre creu, sem tirar nem por. O que devemos anunciar é a fé da Igreja para o homem e a mulher urbanos. Não os conceitos que florescem neste ou naquele ambiente de forma isolada e que desnorteia a comunidade. Nem moralismos, nem água com açúcar, nem axé, nem esquisitices linguísticas que nunca fizeram parte da Igreja Católica, até o surgimento do pentecostalismo, que vem catequizando para as igrejas reformadas, deixando-os prontos. Simplesmente a fé vivida na tradição apostólica e na geração dos que buscam a Deus em meio à ausência e ao desamparo.

O mundo urbano precisa ser evangelizado e não a Igreja ser coagida pelos valores que o mundo quer lhe impor. Precisa ser evangelizado porque nunca foi plenamente. Os que foram evangelizados foram os que habitavam nos interiores, na roça, nas aldeias e pequenas cidades. Agora, o desafio de um novo tempo. O que coloca, acima de tudo, que a identidade da Igreja seja testemunhada na coerência e nos caminhos que o Senhor Jesus a quis. Considerarmos a evangelização no caminho da doutrina, da liturgia, da pastoral e da identidade católica, nos apontam paralelos de como devemos agir no ambiente urbano. Sem receitas imediatistas, mas numa realidade plenamente missionária. É com a participação de todos os batizados que renovaremos a ação da Igreja no mundo urbano. É preciso fazer o que ainda não se fez desde o Concílio Ecumênico Vaticano II, ainda não se atualizou em nossa realidade: uma autêntica renovação da eclesiologia católica, dentro daquilo que o Vaticano II preconizava, a partir da evangélica participação de todos, em ministérios  e funções distintos, em sinodalidade e missionariedade. 

É muito importante, diante destas realidades de assomam o mundo urbano, considerar que a Igreja não é nossa: é de Cristo. Ele deixou aos Apóstolos e a todos nós para que a conduzíssemos pelo Espírito Santo. Nos caminhos em que ela segue fiel, é testemunho e alegria. Por vezes sofrimento e reconciliação. Nunca medo, nem apatia diante daquilo que é contrário ao Reino de Deus. Sigamos em frente, pois a cidade é o novo ambiente que vai nos identificar no futuro enquanto cristão: fidelidade total e radical a Cristo, na fé católica.