Reflexão proferida na novena em preparação para a Festa de São José, Esposo de Maria (19/03/2015)
Ao longo dos
últimos dias, pudemos nos aproximar ainda mais, de uma das mais instigantes
personagens das páginas sagradas: o pai e protetor de Jesus, o esposo de Maria:
José, o justo (Mt 1, 19). E São José tem seu lugar na cultura religiosa de nosso povo, há séculos.
Mas, afinal,
alguém poderia assegurar, com toda certeza e convicção, quem foi este homem que
todos conheciam em Nazaré como “o carpinteiro”?
Quem pode ter
uma resposta clara às perguntas: quem é realmente este homem que acolheu tarefa
tão importante na história da salvação, dando abrigo, educação e profissão, àquele
que veio para falar das coisas do Reino de Deus e nos salvar? Quem dentre nós poderia
já ter compreendido, a completa dimensão da responsabilidade dada a um simples
operário, filho de Jacó, esposo de Maria?
Nestes dias,
nós vimos a trajetória de um José que tornou-se pai, que pôs-se a caminho. Construiu,
passo a passo, ao longo da sua vida, uma estrada de sonhos e uma estrada de atitudes.
Desde o momento em que pensou em despedir secretamente Maria e não denunciá-la,
até quando aceitou a paternidade, acolhendo Maria como a legítima esposa, ele
vai aos poucos, compreendendo que o que “nela foi concebido, era obra do
Espírito Santo” (Mt 1,20). Tornou-se pai por ação do mesmo Espírito Santo, que
acompanhará o Filho por toda a infância, na juventude, no deserto e até na
cruz; nela ele entrega à Igreja este mesmo Espírito Santo que guiou e animou a Igreja,
pela água do batismo e pelo sangue dos mártires, ao longo dos séculos.
No texto
sagrado, por quatro vezes, José mereceu receber mensagens em sonhos. Estas o
levaram a tomar atitudes fundamentais para a vida da Sagrada Família. Atitudes
que tiveram como meta, a proteção. O texto diz que o Anjo do Senhor, falava
diretamente com ele em sonhos. Logo após, José tomava, imediatamente, uma
atitude. Punha-se de pé. Transforma sonhos em realidade em todos os momentos.
Na primeira
ocasião, quando entendeu e assumiu sua missão, acolhendo a paternidade terrena.
Na segunda ocasião, foi para o Egito com a mãe e o menino. Na terceira vez, obedeceu
e retornou do Egito para Israel. Na última ocasião, ao chegar finalmente nas
terras de Israel, partiu para a cidade de Nazaré, onde fixou morada definitiva.
Nas quatro ocasiões, de maneiras distintas, José é chamado a tomar uma atitude
e assumir com zelo de pai, a família que Deus Pai estava colocando em suas calejadas
mãos. Um modo de agir que comprova sua acertada disponibilidade em colaborar,
sem duvidar. Em atender, sem recusar.
Assim como a
maternidade na cultura judaica destaca-se em importância, a José coube, por
outro lado, a formidável tarefa de dar o nome de Jesus (Yehosshu’a, ou Yahweh Salva). Ele é o pai de direito, diante
dos homens de sua comunidade. Quem dá o nome, é também o responsável, por
aquele que nomina. A José coube, até o final da vida, cuidar do filho de Deus
feito homem. Ao dar o nome de Jesus, José acreditou. Entendeu e obedeceu a voz
do anjo.
No Templo de
Jerusalém, reconheceu a profecia divina nas palavras de Simeão e Ana. Viu que
seu Filho crescia em sabedoria, e a força de Deus estava com Ele. Ao perceber o
rápido crescimento e amadurecimento de Jesus, com o passar dos anos e dos
acontecimentos, vai recordando o cumprimento da palavra do Senhor: “tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele
salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1, 21). Conseguia distinguir o
filho querido, de tantas outras crianças da sua idade. Acreditava que o nome de
Jesus realizaria uma missão única: salvar. Salvar o povo.
Anos mais
tarde, novamente no Templo, após procurar o menino por três dias, escutou do
seu filho, as difíceis palavras: “Por que
me procuravam? Não sabiam que eu devo estar ocupado com as coisas de meu Pai?”
(Lc 2, 49).
Reconheceu ao
longo dos dias e noites, que o seu filho tinha uma missão muito além dos
limites das paredes da simples carpintaria de Nazaré. No trabalho, entre
formões, serrotes e prumos, José pôde ensinar àquele que é Mestre e Senhor (Jo
3, 13). O filho ali era um operário, forjado na vida disciplinada do trabalho e
na Justiça. O pai, ali era um aprendiz, observador do filho, trabalhador e
justo. O trabalho simples, diário, caprichoso, faz com que o jovem Jesus
percebesse a rotineira trajetória do tempo; aprendesse, então, que uma tarefa na carpintaria demorava para ser
concluída. Não poderia ser antecipada, enquanto cola e pregos não estivessem
prontos e firmes na sua função. Ainda levaria tempo para que compreendesse
porque veio a este mundo; “ainda não chegou a minha hora” (Jo 2, 4).
O manejo da
madeira maciça, o suor que escorre, o silêncio de cumplicidade entre pai e
filho, frequentemente quebrado pelo constante martelar, furar, grampear e
lixar... Após dias de trabalho, a peça finalmente pronta! O preço justo. A venda.
A Justa recompensa pelo trabalho concluído. Finalmente, a gratificação. Na mesa,
o pão, o vinho, a refeição. Ao redor da mesa, a família. Agora, a alegria do
dever cumprido: “meu pai trabalha e eu
também trabalho” (Jo 5, 17).
Podemos, no
cair desta tarde, acolher São José como um amigo que pode nos mostrar como SONHAR
e agir com o coração cheio de justiça. José nos ensinará a sermos dedicados
operários da igreja, protetores responsáveis, vigilantes e obedientes à vontade
de Deus. Peçamos que seja nosso padrinho, nos acompanhe em nossa caminhada
vocacional, e que nos conduza, do silêncio de sua carpintaria, aos ruidosos
desafios que o mundo nos apresenta ao nascer de um novo dia.
Sendo zeloso
cuidador da família que constituiu, José foi ao longo da tradição da Igreja
chamado de “o Justo”, título que o Evangelho segundo Mateus lhe conferiu. Este
título diz muito para os leitores daqueles primeiros tempos após a Ressurreição e também a cada um de nós hoje. Num mundo marcadamente injusto, José é o homem
que apresenta a todos os que creem, um caminho para continuar a crer em Deus.
São José é
reconhecidamente, na história da Igreja, tido como "o protetor". Talvez seja a
tarefa que mais se destaca no contexto evangélico. A proteção à mãe e ao filho,
despreocupando-se consigo, seus sonhos pessoais, ou com o que os outros falavam
daquela família, sempre que Jesus tornava-se o centro das atenções na pequena
Nazaré. É com sua tarefa de pai do Salvador, que ele vai constituindo-se Justo, protetor e Santo aos olhos de toda a comunidade dos crentes. José ingressa na
História da Salvação trazendo o zelo cuidadoso do operário da madeira.
A liturgia,
a Igreja reconhece de modo claro, a função de protetor de São José. Os
ensinamentos dos Sumos Pontífices a este respeito se fundamentam em suas
próprias convicções e experiências de fé ao longo de suas vidas, em recomendarem
para toda a Igreja, À Celebração do nome glorioso de São José. A Igreja evidencia
a dignidade única de São José, sendo que ele é o segundo em dignidade depois da
Virgem. Foram frequentes as intervenções de Pio XI e depois de Pio XII que
repropuseram São José como Patrono e modelo dos operários (11 de março 1945),
assim como do papa Paulo VI. Devemos lembrar também o quanto São João XXIII, quis
que São José fosse o Patrono do Concílio Vaticano II, dada a necessidade da
proteção do Santo Patriarca para este acontecimento da Igreja.
São João
Paulo II acrescenta que nós ainda hoje temos motivos suficientes para
recomendar a São José cada homem e cada mulher. Afirma ainda que o seu
patrocínio "é necessário ainda hoje para a Igreja, não somente para a
defesa contra os perigos, mas também e sobretudo, para confortá-la no seu
renovado empenho de evangelização no mundo e de re-evangelização naquelas
nações, onde a religião e a vida cristã são colocadas a duras provas".
Também o
papa Francisco colocou sua missão apostólica e toda a Igreja, sob a proteção de
São José. Ao trazer o tema da família como pauta essencial nestes dias que a
Igreja atravessa, o papa aponta para a Sagrada Família de Nazaré, como o modelo
de amor, obediência, harmonia e virtude.
Termino aqui, lembrando aquele momento
especial em janeiro deste, em que o papa Francisco revelou um hábito muito
pessoal que tem há muitos anos. Durante seu discurso às famílias em Manila nas
filipinas, o papa citou o santo como modelo de silêncio, abandono em Deus, mas
também de ação. Francisco lembrou que São José é mencionado nos Evangelhos, repousando,
enquanto lhe é revelada a vontade divina em sonhos. O papa confidencia: “No meu escritório, eu tenho uma imagem de
São José dormindo; e dormindo, ele cuida da Igreja. Quando eu tenho um problema
ou uma dificuldade, eu o escrevo em um papelzinho e o coloco embaixo de São
José, para que ele sonhe sobre isso. Isso significa: para que ele reze por este
problema”.
O papa termina sua mensagem, nos pedindo que
nunca deixemos de lado a capacidade de sonhar. É preciso também levantar-se do
sonho, como fez São José, para que possamos ser sal e luz, e fazer acontecer o
Reino de Deus no hoje.
Que possamos aprender com este homem chamado
José, a real virtude de escutar e compreender os sinais com que Deus nos aponta
a sua vontade, e trabalhemos ativamente pela proteção à Igreja, agindo sempre
com justiça, caridade e misericórdia.
SÃO JOSÉ, PATRONO DA IGREJA, ROGAI POR NÓS!
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