“A cultura é tão natural ao
homem, que a sua natureza não tem nenhum aspecto que não se manifeste na sua
cultura”. Esta é a máxima que aparece exemplarmente no documento “Para uma
Pastoral da Cultura”, do Pontifício Conselho da Cultura órgão pertencente à Santa Sé,
no Vaticano. Nas linhas iniciais de orientação, ponto para o qual direciono o
olhar, este texto polariza a importante distinção entre os processos
elementares da manifestação cultural de um povo e suas expressões mais
eloquentes e equidistantes das realidades iniciais da história da humanidade,
embora não delas seja totalmente alheio, uma vez que a partir destas é que se
formam as realidades suficientemente opostas para serem tratadas de
expressivas, idiomáticas e formar paradigmas culturais.
Ora, quando afirmamos que a cultura nasce do humano, claramente gerado a partir da manufatura de sua consciência, naqueles ensaios de civilização quando parecem surgir, naquele que já admite, no silêncio
abstrato das manhãs, ao olhar o sol nascer, que ele pode prever a novidade diária que se põe diante dele, manifestada
no dia e a noite e pode alterar o dia seguinte, nunca o ontem. Surge uma nova forma de imaginar como poderá ser o amanhã, e
o depois de amanhã, a partir do que ele mesmo podia ver no dia anterior. Ele
começou a comparar e questionar porque haviam diferenças e o que ele poderia
fazer para manter ou mudar sua história. Ora, este exercício imaginativo,
constante e dialogal na sua aldeia, transforma-se muito futuramente, em cultura,
numa possibilidade de criar, agir e opinar. É neste momento que a gênese da
criatividade inicia sua trajetória no gênero humano, que elabora e teoriza a
partir do seu agir, uma nova ideia e desta, uma realidade transformada a partir
do sentido dado pelo humano.
Hoje, num mundo distante daquele
inicial, sabemos que o homem não pode ser definido apenas no âmbito de sua
cultura, embora se tentou verificar esta dinâmica por diversas vezes na
história. Homem e mulher transformam-se a partir de sua cultura original, que
lhe dá características lapidais, mas não reduz a estas formas primeiras, a
amplidão de sua vida, habitada pela diversidade de consciências que lhe são
apresentadas e das quais ele irá buscar as mais diversas possibilidades de
atender aos desafios do seu dia a dia.
Ao revelar-se, Deus manifesta-se na
história, ao ser humano na sua cultura, na sua cidade, na sua casa. É neste
local próprio, do alto de sua vida longa ou breve, nas ações de sua história que
o homem e a mulher poderão atender ao chamado do Criador para os admitir à
plena comunhão em Seu amor, manifestado plenamente no seu Filho, o qual mostra
à humanidade inteira, a visão do Pai (Jo 14,9). Esta plena comunhão com a
história do homem, poderíamos chamar de amor. Simplesmente amor. Mas o
amor supera a cultura e no caso de Deus, amar a humanidade é próprio de ser
Deus. Não é possível ser Deus sem amar a humanidade. Não é possível ser humano,
sem voltar-se àquele que nos gravou naquele olhar de início de dia, num tempo
distante, o pensamento do hoje e do que poderia vir amanhã. Afinal, um dia após
o outro também é manifestação de uma cultura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário