quinta-feira, 5 de junho de 2014

OBSERVANDO O NASCER SILENCIOSO DE UM NOVO DIA


“A cultura é tão natural ao homem, que a sua natureza não tem nenhum aspecto que não se manifeste na sua cultura”. Esta é a máxima que aparece exemplarmente no documento “Para uma Pastoral da Cultura”, do Pontifício Conselho da Cultura órgão pertencente à Santa Sé, no Vaticano. Nas linhas iniciais de orientação, ponto para o qual direciono o olhar, este texto polariza a importante distinção entre os processos elementares da manifestação cultural de um povo e suas expressões mais eloquentes e equidistantes das realidades iniciais da história da humanidade, embora não delas seja totalmente alheio, uma vez que a partir destas é que se formam as realidades suficientemente opostas para serem tratadas de expressivas, idiomáticas e formar paradigmas culturais.

Ora, quando afirmamos que a cultura nasce do humano, claramente gerado a partir da manufatura de sua consciência, naqueles ensaios de civilização quando parecem surgir, naquele que já admite, no silêncio abstrato das manhãs, ao olhar o sol nascer, que ele pode prever a novidade diária que se põe diante dele, manifestada no dia e a noite e pode alterar o dia seguinte, nunca o ontem. Surge uma nova forma de imaginar como poderá ser o amanhã, e o depois de amanhã, a partir do que ele mesmo podia ver no dia anterior. Ele começou a comparar e questionar porque haviam diferenças e o que ele poderia fazer para manter ou mudar sua história. Ora, este exercício imaginativo, constante e dialogal na sua aldeia, transforma-se muito futuramente, em cultura, numa possibilidade de criar, agir e opinar. É neste momento que a gênese da criatividade inicia sua trajetória no gênero humano, que elabora e teoriza a partir do seu agir, uma nova ideia e desta, uma realidade transformada a partir do sentido dado pelo humano.

Hoje, num mundo distante daquele inicial, sabemos que o homem não pode ser definido apenas no âmbito de sua cultura, embora se tentou verificar esta dinâmica por diversas vezes na história. Homem e mulher transformam-se a partir de sua cultura original, que lhe dá características lapidais, mas não reduz a estas formas primeiras, a amplidão de sua vida, habitada pela diversidade de consciências que lhe são apresentadas e das quais ele irá buscar as mais diversas possibilidades de atender aos desafios do seu dia a dia.

Ao revelar-se, Deus manifesta-se na história, ao ser humano na sua cultura, na sua cidade, na sua casa. É neste local próprio, do alto de sua vida longa ou breve, nas ações de sua história que o homem e a mulher poderão atender ao chamado do Criador para os admitir à plena comunhão em Seu amor, manifestado plenamente no seu Filho, o qual mostra à humanidade inteira, a visão do Pai (Jo 14,9). Esta plena comunhão com a história do homem, poderíamos chamar de amor. Simplesmente amor. Mas o amor supera a cultura e no caso de Deus, amar a humanidade é próprio de ser Deus. Não é possível ser Deus sem amar a humanidade. Não é possível ser humano, sem voltar-se àquele que nos gravou naquele olhar de início de dia, num tempo distante, o pensamento do hoje e do que poderia vir amanhã. Afinal, um dia após o outro também é manifestação de uma cultura.

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