Todo aquele que é consciente
de sua ação no mundo, ora ou outra vê-se diante de questionamentos fundamentais
que possam orientar sua vida: afinal, por que estou aqui, e por que agora, nesta época? De onde eu
vim e para onde eu vou? Qual o melhor caminho a seguir em busca da felicidade?
Realmente a felicidade é um lugar, um espaço em que vamos descobrir quando
chegarmos, ou ela se faz no processo da busca intermitente? Ou então se pergunta, o que eu sou? Ser humano me
basta para definir-me? Quanto podemos conhecer do mundo? Quanto posso conhecer
de mim mesmo? Há alguma possibilidade de descobrir realmente para qual
finalidade eu me encontro nesta época, neste contexto, nesta experiência de
vida?
Em todos os sentidos, há uma
busca humana em descobrir o que pode dar algum discernimento ao conjunto de
elementos ou à totalidade de informações que o ser humano acumula ao longo de
sua vida, unicamente para poder entender para qual finalidade, por fim, ele foi
desejado para estar presente no mundo.
Nesta busca, a pessoa humana vai, hora
tateando sem reconhecer o local e o sentido, hora suficientemente esclarecido
de sua condição estrangeira no mundo, compreende que seu momento é único e que
se não tomar as rédeas de sua condição, jamais poderá assumir benesses de uma
vida bem vivida, em resposta às suas questões.
No caminho em que percorre, é
naturalmente desafiador o sentido que dá ao todo existencial, quando consegue perceber
que, por mais que busque desenvolver tudo o que lhe parece óbvio, real e
necessário, entende que tudo é insuficiente para explicar o sentido, daquilo
que sempre surge de novo em sua existência. Hora, de forma ainda mais
problemática faz-se necessário, acima de tudo discernir as questões, os
problemas, de forma a estruturar para si e para os seus, as possíveis soluções
e sair para testá-las.
Neste sentido, nada inicia
sem que apresentemos uma consciência da individualidade em sentido pleno.
Sentir o Eu como algo uno, indivisível. Viver de forma natural e espontânea.
Saber, por outro lado, que somos nossa individualidade e algo mais. Hora, são de
perguntas em perguntas, respostas em respostas, que o ser humano vai
encontrando e retomando a busca daquilo que ele entende como realidade. Assim,
o tempo que insistimos em passar por aqui, na terra, pode ser um momento único
em que somos chamados a espalhar o bem e o belo, o simples e o provocativo, a
reflexão e a diversão.
Ter diante de si o outro é um
entendimento ético capaz de transformar ações que coadunem capacidades de
argumentação sobre si e sobre o outro. Este outro pode ser aquela pessoa que me
apresenta os aspectos multifacetados da minha própria personalidade, no
instante em que, consciente de mim, apreendo que está em jogo algo radical e
decisivo: nossas existências. Embora possam mudar aspectos de minha
personalidade, meu Eu nuclear é vivenciado como o mesmo ao longo dos anos, ao
dispor do tempo. Ao escrever minha história, então, tenho consciência de que
apenas uma parte do meu Eu atual vivenciou tudo isso que aconteceu no meu
passado.
Pergunta-se então como aquela
pessoa, por demais sofrida pela sua história e passando por experiências
dolorosas na constituição da continuidade e da unidade de seu Eu, pode se
inserir no meio sociocultural de forma coerente e dinâmica? Este sujeito, ao
construir sua personalidade como um processo que decorre de um julgamento que
ele faz de si mesmo e também do modo como os outros o percebem e julgam. Nesta
dinâmica, seus ideais e compromissos, valores e modos de ser indicarão, às vezes
claramente, outras vezes insuficientemente convincentes, indicarão ao sujeito
qual caminho ele deve seguir e quais deve evitar para poder cumprir sua meta de
vida e encontrar suas respostas.
Este caminho, este processo
em movimento onde a identidade é algo dinâmico e em contínua evolução, forma o
conceito mais claramente estabelecido de que a personalidade nunca será por
assim dizer, uma “realização”, mas antes caminha para uma “transformação”
contínua em que o sujeito pode apreender ao longo da vida, as questões que o
fazem viver, muito mais do que responder seus anseios e às perguntas
elementares, por mais que sejam absolutamente necessárias para seu contexto do
real.
Assim, tudo o que pensamos
sobre a felicidade pode não encontrar-se como um ato finito, pronto, acabado.
Antes, o modo como a conquistamos ao longo da vida é que poderá nos mostrar
como podemos participar do mundo e transformá-lo a partir da participação e
transformação que fazemos em nós mesmos e a partir daí, nos que atravessam a
nossa vida e somos sujeitos, aqui e agora, com eles.
As respostas às questões fundamentais
podem vir de respostas que já construímos em sentido mormente adequado ao que
acreditamos, em nossas crenças mais reais e nos desafios que nos impomos ao
longo da vida. Tornar felicidade o que cremos talvez seja um passo que devamos
dar para nós mesmo, para que possamos sobreviver, investindo nossos esforços na
construção de relações saudáveis com pessoas e com o mundo.
Assista agora: https://www.youtube.com/watch?v=V0gquwUQ-b0
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