quarta-feira, 11 de junho de 2014

APRECIAÇÃO SOBRE O FILME “EU MAIOR”, de FERNANDO SCHULTZ E PAULO SCHULTZ


Todo aquele que é consciente de sua ação no mundo, ora ou outra vê-se diante de questionamentos fundamentais que possam orientar sua vida: afinal, por que estou aqui, e por que agora, nesta época? De onde eu vim e para onde eu vou? Qual o melhor caminho a seguir em busca da felicidade? Realmente a felicidade é um lugar, um espaço em que vamos descobrir quando chegarmos, ou ela se faz no processo da busca intermitente? Ou então se pergunta, o que eu sou? Ser humano me basta para definir-me? Quanto podemos conhecer do mundo? Quanto posso conhecer de mim mesmo? Há alguma possibilidade de descobrir realmente para qual finalidade eu me encontro nesta época, neste contexto, nesta experiência de vida?
Em todos os sentidos, há uma busca humana em descobrir o que pode dar algum discernimento ao conjunto de elementos ou à totalidade de informações que o ser humano acumula ao longo de sua vida, unicamente para poder entender para qual finalidade, por fim, ele foi desejado para estar presente no mundo.
 Nesta busca, a pessoa humana vai, hora tateando sem reconhecer o local e o sentido, hora suficientemente esclarecido de sua condição estrangeira no mundo, compreende que seu momento é único e que se não tomar as rédeas de sua condição, jamais poderá assumir benesses de uma vida bem vivida, em resposta às suas questões.
No caminho em que percorre, é naturalmente desafiador o sentido que dá ao todo existencial, quando consegue perceber que, por mais que busque desenvolver tudo o que lhe parece óbvio, real e necessário, entende que tudo é insuficiente para explicar o sentido, daquilo que sempre surge de novo em sua existência. Hora, de forma ainda mais problemática faz-se necessário, acima de tudo discernir as questões, os problemas, de forma a estruturar para si e para os seus, as possíveis soluções e sair para testá-las.

 
Neste sentido, nada inicia sem que apresentemos uma consciência da individualidade em sentido pleno. Sentir o Eu como algo uno, indivisível. Viver de forma natural e espontânea. Saber, por outro lado, que somos nossa individualidade e algo mais. Hora, são de perguntas em perguntas, respostas em respostas, que o ser humano vai encontrando e retomando a busca daquilo que ele entende como realidade. Assim, o tempo que insistimos em passar por aqui, na terra, pode ser um momento único em que somos chamados a espalhar o bem e o belo, o simples e o provocativo, a reflexão e a diversão.
Ter diante de si o outro é um entendimento ético capaz de transformar ações que coadunem capacidades de argumentação sobre si e sobre o outro. Este outro pode ser aquela pessoa que me apresenta os aspectos multifacetados da minha própria personalidade, no instante em que, consciente de mim, apreendo que está em jogo algo radical e decisivo: nossas existências. Embora possam mudar aspectos de minha personalidade, meu Eu nuclear é vivenciado como o mesmo ao longo dos anos, ao dispor do tempo. Ao escrever minha história, então, tenho consciência de que apenas uma parte do meu Eu atual vivenciou tudo isso que aconteceu no meu passado.  
Pergunta-se então como aquela pessoa, por demais sofrida pela sua história e passando por experiências dolorosas na constituição da continuidade e da unidade de seu Eu, pode se inserir no meio sociocultural de forma coerente e dinâmica? Este sujeito, ao construir sua personalidade como um processo que decorre de um julgamento que ele faz de si mesmo e também do modo como os outros o percebem e julgam. Nesta dinâmica, seus ideais e compromissos, valores e modos de ser indicarão, às vezes claramente, outras vezes insuficientemente convincentes, indicarão ao sujeito qual caminho ele deve seguir e quais deve evitar para poder cumprir sua meta de vida e encontrar suas respostas.
Este caminho, este processo em movimento onde a identidade é algo dinâmico e em contínua evolução, forma o conceito mais claramente estabelecido de que a personalidade nunca será por assim dizer, uma “realização”, mas antes caminha para uma “transformação” contínua em que o sujeito pode apreender ao longo da vida, as questões que o fazem viver, muito mais do que responder seus anseios e às perguntas elementares, por mais que sejam absolutamente necessárias para seu contexto do real.  
Assim, tudo o que pensamos sobre a felicidade pode não encontrar-se como um ato finito, pronto, acabado. Antes, o modo como a conquistamos ao longo da vida é que poderá nos mostrar como podemos participar do mundo e transformá-lo a partir da participação e transformação que fazemos em nós mesmos e a partir daí, nos que atravessam a nossa vida e somos sujeitos, aqui e agora, com eles.
As respostas às questões fundamentais podem vir de respostas que já construímos em sentido mormente adequado ao que acreditamos, em nossas crenças mais reais e nos desafios que nos impomos ao longo da vida. Tornar felicidade o que cremos talvez seja um passo que devamos dar para nós mesmo, para que possamos sobreviver, investindo nossos esforços na construção de relações saudáveis com pessoas e com o mundo.

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