Caravaggio. A incredulidade de São Tomé.
Óleo sobre tela. 107x146cm. 1601-1603.
Sanssouci Pictures Gallery.
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A fé dos Apóstolos é a fé que professamos na Igreja.
Hoje celebramos a festa litúrgica
de São Tomé Apóstolo. Escolhido e chamado pessoalmente por Jesus Cristo (Mt 10,3; Mc 3,18; Lc 6,15), foi ele quem expressou solidariedade na última viagem para Jerusalém, quando deveriam passar pela Judeia,
lugar onde queriam apedrejar Jesus. Tomé disse aos outros: “Vamos nós também
para morrer com ele” (Jo 11,16). Foi ele quem perguntou a Jesus: “Senhor, não
sabemos para onde vais. Como podemos saber o caminho". Jesus respondeu: “Eu
sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,5-6).
Tomé não estava com os Doze quando o Senhor apareceu a eles.
Depois lhe contaram “Vimos o Senhor!” (Jo 20,25). Mas Tomé duvidou dos irmãos. Para Tomé, a fé deveria ser palpável, como
para muitos cristãos, ainda hoje. É preciso ver “o milagre”. É preciso tocar,
sentir. É uma fé que ainda precisa ganhar estatura e bons frutos. Nós recebemos a Fé no Batismo, como
uma graça de Deus. O Espírito Santo habita em nós pelo poder da graça divina. É
como uma semente que somos chamados a fazer crescer ao longo de nossa vida.
Esta fé precisa amadurecer para dar frutos. Mas para dar frutos, antes é preciso que cresça.
Torne-se uma fé adulta.
Onde fazemos a fé crescer? Qual o
terreno fértil para crescer nossa fidelidade ao Senhor? Onde podemos escutar os outros irmãos que viram o Senhor ressuscitado e creram nele? É na comunidade que
esta semente irá crescer. Com a nossa participação e a Palavra que ouvimos, com
os Sacramentos que participamos, especialmente a Eucaristia que celebramos aos
domingos. Mas para isso é preciso participar de uma comunidade. Onde estava Tomé naquele dia da ressurreição? Tinha
algo mais importante que ver o Senhor vivo e ressuscitado? Onde nós estamos aos
domingos? Temos algo mais importante que o nosso encontro com o Cristo vivo e
ressuscitado, presente na Eucaristia e na sua Igreja?
Tomé põe de lado a dúvida, ao pedido
do próprio Jesus: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão
e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel” (Jo 20,27). Diante da
humanidade restaurada e glorificada de Jesus Cristo, diante da comunidade dos
Apóstolos, Tomé faz a sua profissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28).
Ele faz a experiência do ressuscitado. O Cristo que vive. Esta experiência profunda de reconhecer
em Jesus Cristo, Deus e Senhor da nossa vida. Mas somente se aproxima desta
experiência, aquele batizado que faz sua fé crescer, amadurecer. É necessário
tornar a nossa fé adulta. Não é possível mais, no mundo atual, viver uma fé
abandonada àquelas noções iniciais do tempo de nossa catequese que, por mais
profundas que possam ter sido e que nos fortalecem até hoje, precisam
amadurecer numa busca diária e comunitária de sentido para a existência em
nossos dias. Esta fé que recebemos dos Apóstolos, devemos conhecer a Igreja na
qual cremos: Una, Santa, Católica e Apostólica. Estas são as notas
essenciais da Igreja.
UNA, edificada como unidade na
diversidade, mediante a pluralidade dos carismas, unidade legitimamente constituída em Jesus Cristo, que conosco caminha na história, até o fim dos tempos. A Igreja é una e única, Corpo místico de Cristo.
SANTA, fundada na santidade de seu
fundador. Mediante a graça de Deus germina a santidade da Igreja, enquanto
caminha neste mundo.
CATÓLICA, porque em Cristo, o
Espírito Santo oferece a todos a possibilidade de se unir ao mistério pascal,
formando um único povo, entre a diversidade de povos. A Igreja é missionária,
enviada a todos os povos, envia seus filhos. Por isso todos são chamados a viver em Cristo, único Caminho, Verdade e Vida!
APOSTÓLICA, porque Cristo a fundou
sobre os Apóstolos. Esta fé está presente nos Símbolos, no que chamamos de
Credo, a fé da Igreja Apostólica. Dotados pelos Espírito Santo, os Apóstolos
têm sua união permanente em Pedro, todos com a mesma dignidade, mas se
diferenciam entre si pelo poder de servir de formas diversas.
Esta fé apostólica, que nos foi
transmitida na Escritura e na Tradição, continua se desenvolvendo na Igreja sob
a assistência do Espírito Santo. Esta Tradição apostólica
compreende tudo quanto contribui para que o Povo de Deus leve uma vida santa e
para que a fé aumente, se purifique e se fortaleça.
Que a fé que professamos, que não é uma fé
individual, intimista, mas uma fé que nasce e se fundamenta na Igreja, na
comunidade, seja renovada, amadureça e caminhe na unidade de vida e missão na
Igreja, a exemplo do que viveu São Tomé Apóstolo. Que possamos, na Igreja, comunidade de fiéis, amadurecer a fé que
recebemos no nosso batismo. São Tomé Apóstolo, rogai por nós!
Velazquez. São Tomé.
Óleo sobre tela. 95 x 73 cm. 1619-1620.
Musée des beaux-arts d'Orléans.
A partir de hoje, festa litúrgica de São Tomé Apóstolo, volto a escrever no meu Blog. Sem qualquer pretensão acadêmica, quer ser um ambiente onde se deseja discutir, de forma livre e espontânea, a cultura contemporânea em permanente diálogo, valorizando as diferenças e a diversidade de opinião. Com este blog "Cultura e Fé", buscam-se os pontos em comum que existam na relação fé e cultura e se procurará aprofundar os elementos convergentes, de modo a enfrentar, sem receio, as atuais questões da cultura e da fé que interpelam a humanidade. Para mim também será um exercício de escrita para um futuro livro. Boa leitura a todos!
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