Numa época em que muito se fala e se vende o fim do mundo, talvez uma reflexão sobre a morte possa trazer alguns elementos fundamentais da reflexão a partir da tanatologia, que busca aprofundar este tema que a todos nos envolve e desafia. Vale a pena a leitura.
* Este texto é de autoria de Tiago de Souza, graduando do 3º ano de Teologia da Faculdade Católica de Santa Catarina (FACASC).
A modernidade está imersa
em inúmeros avanços científicos e tecnológicos que possibilitam o homem e a
mulher aumentarem seus conhecimentos, dominarem diversos recursos naturais,
transformando-os em benefício próprio e assim viverem confortavelmente. Entretanto,
aumentou o número de pessoas que não conseguem lidar, superar o que é mais
próprio seu: os medos, entre eles o medo da morte. Mas o que é a morte? O
dicionário apresenta alguns significados comuns sobre a morte: fim, destruição,
ruína. Todas essas palavras não expressam situações positivas, mas ocasos ruins
para as pessoas. Aí já se encontra uma carga negativa que atualmente a morte
tem.
É fato ver que a
sociedade ocidental não se questiona sobre a morte, ao contrário, prega e
transmite aos seus descendentes uma anticultura da morte. Um exemplo disso são
as crianças que hoje não são mais expostas às situações de morte. Antigamente,
desde novinhas, cresciam ouvindo sobre a morte, eram colocadas diante da morte,
participando de velórios ou dos últimos momentos de vida das pessoas que lhe
eram próximas. Hoje é raridade isso acontecer.
O ginecologista e
tanatólogo Sebastião Galeno apresenta uma reflexão no mínimo curiosa sobre qual
a origem do medo da morte, o qual é no mínimo curioso e se deve dar maior
atenção. Segundo ele, a causa está além das aparências, não está no exterior,
fora, mas dentro da pessoa. Em outras palavras, o medo está no auto, severo e
solitário julgamento que acontece imediatamente após a morte. Assim, a morte
abre caminho para a pessoa olhar para si mesma com verdade, pureza e sinceridade,
avaliando seus atos em vida, vendo-os se foram dignos de pessoas criadas à
imagem do Pai. Durante toda uma existência marcada pela competição, pela busca
da sobrevivência e do reconhecimento, muitas vezes, impulsionada por atitudes desonestas
para com o outro, e facilmente esquecidas pelas exigências de cada dia, agora,
após a morte, vem à tona e não a como fugir.
"O Sepultamento de Atala". Anne Louis Girodet de Roucy Trioson. Óleo sobre tela. 207x267cm. 1808. Musée du Louvre. Paris, France. |
Galeno afirma como
solução que se deve sair do comodismo e assumir a vida em sua plenitude. Não vê-la
só pelo crivo da ciência, que tem seu valor, pois ajuda na sobrevivência
humana, mas que é finita e compreende a morte como fim. Mas olhar com a visão
do espírito que transcende a materialidade. Isso fará com que o consumismo, o
imediatismo, o materialismo, a competitividade, não sejam prioridade. Assim
sendo, de acordo com Galeno, a solução está no equilíbrio entre espiritualidade
e ciência, pois precisamos viver e administrar bem a matéria, mas também
transcendê-la porque ela não resume toda a realidade. Dessa forma, esse medo
irá aos poucos se esvaindo, pois a vida será mais bem vivida e o julgamento da
consciência não pegará o Homem de surpresa. Então, a morte será tranquilamente
compreendida como uma passagem.
Portanto, o medo da morte,
mas do que outrora é patente nos tempos hodiernos. Viu-se que como pano de
fundo há o drama da solidão, da vergonha e do julgamento último. Uma forma
objetiva que pode ajudar a superar ou canalizar esse medo da morte é viver a
existência sem encerrar a vida no aqui, no agora, na ciência, nos bens que
geram conforto e prazer imediato, mas fazendo uso disso, transcende-los,
abrindo-se para a realidade espiritual. Essa atitude dará a possibilidade ao
homem e a mulher de alargarem sua existência, permitindo-se acessar o horizonte
da esperança. Assim, a morte tem a possibilidade de tornar-se tranquilizadora,
libertadora, plenificante, sendo porta para uma realidade maravilhosa.
REFERÊNCIAS
COMBINATO, Denise S.; QUEIROZ,
Marcos S. Morte: uma visão
psicossocial. Estudos de Psicologia,
v.11 no2, 2006. p. 209-216, p. 211. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/%0D/epsic/
v11n2/a10v11n2.pdf>. Acesso em: 15
jun. 2017.
GALENO, Sebastião. Medo da morte,
medo da vida. In: D´ASSUMPÇÃO, Everaldo A. (Org.). Biotanatologia e Bioética. São Paulo: Paulinas, 2001. p. 61-69, p.
61-62.
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